sábado, 15 de agosto de 2015

MENTIRA TEM PERNA CURTA



MENTIRA TEM PERNA CURTA
Por José Gomes da Silva

Qual brasileiro não imaginou um dia viver num país desenvolvido, pujante,valoroso, de gente civilizada e ordeira, com o progresso sugerido pela bandeira nacional “galopando” ininterruptamente, da Serra da Contamana à Ponta do Seixas, do Oiapoque ao Chuí?.
É século XXI e a imaginação frutificou, o sonho virou realidade e eis aí a nação desejada, infraestruturada e socialmente arrojada.
A grandeza do Brasil não é utópica. Loas lhe são tecidas no Hino Nacional, caso dos versos:

Gigante pela própria natureza
És belo, és forte, impávido colosso
E o teu futuro espelha essa grandeza.

Deitado eternamente em berço esplêndido
Ao som do mar e à luz do céu profundo
Fulguras, ó Brasil, florão da América
Iluminado ao sol do Novo Mundo!

Do que a terra mais garrida
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores
"Nossos bosques têm mais vida"
"Nossa vida" no teu seio "mais amores"

(Composição: Francisco Manuel da Silva / Joaquim Osório Duque Estrada)

Vejam como somos um país pretensioso: “Gigante pela própria natureza” Nesse particular está a verdade. Temos dimensão continental e sob e sobre esse solo há riquezas vegetais, animais e minerais que embasam toda a pretensão desenvolvimentista da nação tupiniquim.
Dos dois últimos versos da primeira estrofe acima citada pode-se depreender um antagonismo na grandeza espelhada pelo futuro.
Na segunda estrofe, o país está abençoado pela própria natureza e na terceira, temos a terra mais garrida, campos mais floridos e, destaque-se, no seio da pátria nossa vida é mais amada.

Que paizão, o Brasil. O que dizer que há de ruim? Nada. A Terra é generosa, o povo é amável.

No poema de Gonçalves Dias, nacionalista ao extremo, também está decantada a grandeza brasileira, desde a época romântica do século XIX. Confira alguns versos que enaltecem o país e o coloca no grau superlativo entre as outras nações:
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores.
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá.

Minha terra tem primores
Que tais não encontro eu cá;
(Disponível em: < https://pt.wikisource.org/wiki/Can%C3%A7%C3%A3o_do_Ex%C3%ADlio_%28Gon%C3%A7alves_Dias%29> Acessado em: 15/08/2015.

Como vês, caro leitor, os versos extraídos do poema sugerem que temos tudo de melhor. Ah, que país belo”.
E há quem seja feliz por ser brasileiro, por viver aqui.. Um exemplo está descrito na seguinte letra de música:

Meu País
Ivan Lins

Aqui é o meu país
Nos seios da minha amada
Nos olhos da perdiz
Na lua na invernada
Nas trilhas, estradas e veias que vão
Do céu ao coração
Aqui é o meu país
De botas, cavalos, estórias
De yaras e sacis
Violas cantando glórias
Vitórias, ponteios e desafios
No peito do Brasil
Me diz, me diz
Como ser feliz em outro lugar
Aqui é o meu país
Dos sonhos sem cabimento
Aqui sou um passarim
Que as penas estão por dentro
Por isso aprendi a cantar,
Voar, voar, voar
Me diz, me diz
Como ser feliz em outro lugar.

Nota-se, pela letra da música, que alguém está conformado e feliz com o país que tem. Isso se justifica com o último verso da canção.

De fato, tanto os autores do Hino Nacional, quanto Gonçalves Dias e Ivan Lins foram felizes em enaltecer o país verde-amarelo.. Somos os maiorais: temos o melhor IDH do planeta; corrupção aqui não existe. Os setores da saúde, da educação, da segurança e da assistência social, dentre outros, são exemplos de eficácia e qualidade máxima, modelo para os países do, se é que podemos ainda assim dizer, primeiro mundo. Estamos além deles, ultradesenvolvidos.
Nossa infraestrutura é de causar inveja a qualquer outro povo: hospitais, escolas, prisões super-equipadas, sem lhes faltar nada para o excelente funcionamento.
As periferias das médias e grandes cidades em nada diferem dos centros, são também hiperurbanizadas e cuidadas.
As pequenas cidades são primorosas: calçadas, com redes de esgotamento sanitário, sem exceção, sempre limpas, prédios públicos conservados e zelados.
O trânsito tem organização impecável e todos os condutores de autos e motos têm formidável educação para o trânsito como nunca se viu em outro lugar.
Os mercados municipais dão prazer a quem vai até eles pelo “bom ar” que exalam e por sua conservação.
A nível nacional o âmbito dos transportes se agigantou: temos atualmente grandiosas companhias aeres, aeroportos primam pelo atendimento aos passageiros; ônibus intermunicipais e interestaduais super confortáveis, luxuosos e seguros. Um sistema de trem-bala que liga São Luís a Porto Alegre, passando por todas as capitais atlânticas; outro ramal, que sai de Belém, passa por Palmas, Brasília, Goiânia, Campo Grande, Cuiabá, Porto Velho e Rio Branco.
Nossa malha rodoviária, moderna, dá total segurança aos usuários. Nossos portos, bem equipados, promovem com as exportações e importações, aumentando a riqueza nacional.
“Brava gente, brasileira”, dona de um país “wonderful”, “hermoso”, educada ao extremo, ordeira e trabalhadora, que, como capricho faz cumprir “ordem e progresso”, orgulhosa de estar continuamente construindo o “gigante do hemisfério sul”.
Aqui não se fala de classes sociais, de desigualdades, de violência, de tráfico e consumo de drogas ilícitas. Não há discriminação nem racismo, a coexistência dos grupos étnicos, colonos e imigrantes recém-chegados é pacífica, não há choques nem enfrentamentos.
As casa populares são verdadeiros “palacetes” que cabem famílias numerosas.
Indústrias há de todos os ramos.
Água aqui não é problema: os mananciais da banda ocidental do território são transpostos para a oriental, uniformizando o país de verde, o verde da bandeira. Logo, nenhum indivíduo é privado do líquido indispensável. Que maravilha, Brasil!
Os gestores, em todas as esferas, são pessoas de ilibada conduta. O povo está em boas mãos. Eh, Brasilzão!
Ary Barroso também não polpou alusão ao seu país e disse, através da canção Aquarela do Brasil:

Aquarela do Brasil

Brasil
Meu Brasil brasileiro
Meu mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
Ô Brasil, samba que dá
Bamboleio que faz gingar
Ô Brasil, do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil, Brasil
Pra mim, pra mim

Ah, abre a cortina do passado
Tira a Mãe Preta,do serrado
Bota o Rei Congo, no congado
Brasil, Brasil
Pra mim, pra mim
Deixa, cantar de novo o trovador
A merencória luz da lua
Toda canção do meu amor
Quero ver a Sa Dona, caminhando
Pelos salões arrastando
O seu vestido rendado
Brasil, Brasil
Pra mim, pra mim
Brasil
Terra boa e gostosa
Da morena sestrosa
De olhar indiscreto
Ô Brasil, samba que dá
Bamboleio, que faz gingar
Ô Brasil, do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil, Brasil
Pra mim, pra mim
Oh, esse coqueiro que dá coco
Onde eu amarro a minha rede
Nas noites claras de luar
Brasil, Brasil
Pra mim, pra mim
Ah, ouve essas fontes murmurantes
Aonde eu mato a minha sede
E onde a lua vem brincar
Ah, este Brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil, brasileiro
Terra de samba e pandeiro
Brasil, Brasil
Pra mim, pra mim


E, como se não bastasse tanto enaltecimento, Jorge Bem Jô também na música, País Tropical externa  o seu pensamento sobre o maior país do hemisfério sul:

Moro num país tropical, abençoado por Deus
E bonito por natureza, mas que beleza

http://letras.mus.br/jorge-ben-jor/46647/

Ah, como seria bom se vivêssemos num Brasil belo, organizado, ordeiro e progressista! É um sonho utópico. Quem nos dera que tivéssemos “gente fina, elegante e sincera, com índole para o progresso, para o bem comum, para a verídica e pura prática da cidadania.
Ah, como seria fantástico viver num  Brasil super desenvolvido.
Mas, como mentira tem perna curta, , entenda-se tudo ao contrário.